“Aguardaremos a liberação da ButanVac após os testes e, em paralelo, o Butantan terá uma fábrica multipropósito, com capacidade para fabricação de 1 milhão de doses por dia da Coronavac”, afirmou.
Ele lembrou que a produção do IFA da Coronavac em solo brasileiro será possível graças ao acordo de transferência de tecnologia em andamento com a farmacêutica chinesa Sinovac. Por enquanto, o produto é apenas finalizado no Brasil, com insumos vindos da China. A previsão é que, entre o final deste ano e o início de 2022, o processo de transferência de tecnologia tenha sido finalizado e a produção 100% nacional tenha início.
O cenário para a revacinação, porém, ainda é de muita incerteza. A ButanVac nem passou pelos primeiros testes clínicos com humanos, o prazo previsto pelo Butantan de concluir os estudos do produto (outubro) é considerado muito otimista pelos especialistas e os dados sobre a necessidade de revacinação ou dose de reforço de vacinas da covid-19 ainda são limitados.
Por essas razões, vários especialistas criticaram o anúncio do governo paulista. O Ministério da Saúde também se posicionou contrário à medida. Em nota, a pasta disse que “até o momento, não há evidência científica que confirme a necessidade de doses adicionais das vacinas covid-19”.
A recomendação, segundo o órgão, “é que Estados e municípios sigam o que é definido pela Câmara Técnica Assessora em Imunização e Doenças Transmissíveis, que é pactuada entre União e gestores estaduais e municipais, e pelo Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 (PNO)”.
Especialistas em vacinas ouvidos pela reportagem disseram que muitos países estão estudando a necessidade de uma dose de reforço ou da atualização das vacinas de acordo com as cepas circulantes, mas que ainda não há evidências de que essa terceira dose seja necessária nem qual o melhor momento para fazer uma revacinação.
“A gente pode até se preparar para uma possível necessidade de um reforço, que pode acontecer seja por novas variantes, pela imunidade ir diminuindo ou para um certo grupo vulnerável no qual a vacina não funcionou tão bem. Mas para cada uma dessas três hipóteses, a decisão do reforço tem que ser baseada nos dados”, disse a epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin de Vacinas, dos Estados Unidos.
“Até agora, a gente tem dados de que a vacina ainda está protegendo contra as variantes com duas doses. Quanto à duração da imunidade, sabemos que está durando pelo menos um ano para as vacinas de RNA, mas ainda não temos esses dados para a Coronavac, então precisa fazer estudo. Esse tipo de informação de revacinação agora só gera confusão e incerteza”, completou a médica.
Ela afirmou que, mesmo no país norte-americano, onde há abundância de doses, ainda não há uma definição sobre política de revacinação – apenas estudos sobre um possível reforço para grupos vulneráveis que não responderam tão bem ao primeiro ciclo vacinal, como os imunodeprimidos.
O infectologista Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), também defende que é muito cedo para pensar numa revacinação. “Temos que fazer estudos para ver os títulos de anticorpos protetores depois de um tempo, se eles continuam protegendo, sobre o intercâmbio de vacinas, sobre vacinas de nova geração. Mas uma coisa é estudar, outra coisa é discutir a implantação”, afirmou.
Ele diz que, com os dados existentes hoje, não é possível saber se a terceira dose é realmente necessária e, caso seja, em qual momento e para quem ela deveria ser oferecida. “Não sabemos ainda se vai precisar de dose de reforço, quem vai precisar, com que vacina vai fazer, se serão esquemas mistos. Então falar em data de revacinação é, no mínimo, um exercício de futurologia, não tem cabimento”, ressaltou.