Durante a pandemia, Bolsonaro teve quatro ministros da Saúde. Os dois primeiros, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, deixaram o cargo por divergências com o presidente. O terceiro, o general do Exército Eduardo Pazuello, ficou quase um ano no posto e como um dos investigados na CPI da Covid-19.
O quarto ministro, Marcelo Queiroga, assumiu com um discurso mais conectado ao consenso científico, mas mudou de atitude recentemente e passou a fazer acenos ao bolsonarismo para permanecer na Esplanada “É difícil falar que estamos melhor quando batemos 600 mil óbitos. É impossível não relembrar todos os equívocos, erros, negligências que aconteceram nesse período de quase dois anos”, diz Raquel Stucchi, professora da Unicamp e consultora da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).
De toda forma, diz a especialista, “hoje nossa realidade, sem dúvida nenhuma, é melhor”. A situação de maior tranquilidade lembra o segundo semestre de 2020, quando também houve forte redução de casos e mortes. A diferença, diz Stucchi, é a vacinação avançada.
Algumas cidades já avaliam desobrigar o uso de máscaras, o público volta ao jogos de futebol, as escolas retomam as aulas presenciais, as escolas de samba dicutem o Carnaval de 2022. Especialistas chamam a atenção para os perigos de relaxar medidas de contenção do coronavírus num momento em que a Covid ainda mata em média mais de 400 pessoas por dia.
Além disso, estudos têm demonstrado que a efetividade das vacinas cai após seis meses, especialmente contra infecções. Por esse motivo, diversos países discutem a aplicação de uma dose de reforço. “Mas há um certo grau de segurança de considerarmos que a pandemia, sim, deve estar sob controle, que não devemos ter surpresas até 2022. A luz no fim do túnel está bem mais próxima”, afirma a especialista da Unicamp. “Com o Sars-CoV-2 sempre podemos ter surpresas, mas as chances de nos surpreender é menor”, diz.
Stucchi afirma que, em um cenário pessimista, uma nova variante com escape vacinal poderia aparecer em algum dos países, principalmente os mais pobres, com dificuldades de colocar em ação o programa vacinal. Também não se pode pintar um cenário otimista, diz a especialista, de que “já está tudo controlado, vamos tirar as máscaras agora”.
Segundo Stucchi, agora é o momento dos eventos-teste, com acompanhamento dos participantes pelas autoridades de saúde. O Brasil, afinal, já perdeu 600 mil vidas para a Covid, uma quantidade com a qual se faz um dos países mais ricos do mundo: Luxemburgo.